Poesias que fizeram parte da Exposição Marcas, em março de 2009, em homenagem ao Mês da Mulher. No Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, a mostra reuniu meus escritos e fotografias de Dulce Helfer. O projeto do Incolo – Instituto de Prevenção do Câncer de Colo do Útero – teve a parceria da AJORSUL. A inspiração veio das marcas que o viver nos traz.
Tenho marcas no meu corpo
tenho marcas na minha alma
que veloz
ou mansamente
devagar
ou de repente
tingem-me de cores
e desenham-me assim
essa que sou.
Há sempre um traço novo na arte
há sempre um traço novo na superfície
nunca a mesma geografia
sem graça assim seria.
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Minhas estrias apareceram aos doze
nada entendia
perdi a pose
achei que era grave
rezei uma ave
apelei ao doutor.
Invadiram-me
intimidaram-me
envergonharam-me.
Escondi-me
disfarcei-me
as escondi e as disfarcei.
Até descobri-las
inofensivas.
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Os anos, os hábitos
o celebrar e o pesar
o choro e o gozo
a cara não mente.
Zelo ou descuido
bisturi, creme ou tratamento.
Reveladora a pele
mas não honesta
nem transparente
precisa do tempo
e perde para os olhos
que dizem tudo
na hora.
***
Pintas, pintas, pintas
que a vida em meu corpo pinta
e marca.
Cada uma delas
por alguém foi tocada
lambida
roçada.
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Mania essa de achar ruim ter marcas!
Ruim é não tê-las,
não viver,
não vivê-las!