TURBULÊNCIAS

A alma suplica
aconchego.
Quer encontrar
quem aplaque
a ebulição,
os sentimentos
desencontrados
que seguem
em várias direções.
Onde ancorar esse barco
longe da ventania
que teima em levá-lo
pra lá e pra cá?
Ancorar?
Melhor deixá-lo à deriva.

***

Não quero estar
sem teu cheiro,
sem teu beijo,
sem teu toque
que em mim explode.
Que faz desordem
na minha boca
que seca.

Não quero estar
sem teu corpo
que eu toco,
que eu como,
que eu sorvo.
Que me invade,
e rasga meus pudores,
meus conceitos
meus defeitos.

Teu defeito
é o ócio.
É nada fazer
para eu não me perder
neste vício.

***

Vou te largar,
vou te cuspir pra sempre
da minha existência.
Sem clemência.
Vou te abandonar,
não quero mais saber
dos teus dramas
dos teus enredos
dos teus planos
dos teus medos.
Quero me libertar
das manias
dos gostos
das preferências
na cama
na mesa
no banho.
Não quero mais saber de ti.
Não,
por enquanto.

***

O que tu sabes
do que eu sinto?
O que tu sabes
do que eu minto?
O que tu sabes
do que eu escondo?
O que tu sabes
do meu vômito
contido
das coisas
que não digo
das coisas que vejo
e faço que não percebo?
O que tu sabes
da minha angústia?
O que tu sabes
do meu querer?
O que tu sabes
da minha alma
que vaga por aí sem calma?
Dos meus esconderijos
da minha emoção
sem abrigo?
O que tu sabes
de eu te amar?

***

Dilacera
deixa em pedaços
qualquer vestígio
de gente.
Da gente.
Corrói
decompõe
dói
aperta.
Só a aurora
faz esquecer dela,
a saudade
que invade.

***

Meu amor desapareceu
esfarelou.
Você desintegrou
no meu íntimo.
Não tenho mais saudade
Não tenho mais tesão.
Sinto apenas
que mais não sinto.

***

Some de mim,
seu intruso!
Nem tente
ressuscitar,
que te ponho à marra
na masmorra!