Se os escritores levam experiências pessoais para os livros, Fernanda Moro deixa isso claro já na contracapa. “A Menina que queria ter rugas”, recém lançado pela Editora Citadel, é inspirado em uma redação que ela escreveu na escola aos dez anos. A Fernanda menina dizia que tinha “vontade de desenhar rugas em seu rosto para ficar parecida com a avó que tanto admirava”. Também tem dez anos a personagem principal do seu livro, Sofia, que é tímida para falar, mas precoce nas suas confabulações escritas, quando reflete sobre o mundo adulto que observa com atenção.
“A Menina que queria ter rugas” marca a estreia de Fernanda Moro na literatura, depois de vários filmes e prêmios como atriz. São inúmeras as reflexões que o texto provoca a partir da tão contemporânea quanto impossível “busca pela eterna juventude”. No decorrer da narrativa, Sofia vai escrevendo seu diário em formato de um blog secreto, já que só é lido por ela mesma. Enquanto narra certas tensões familiares, a jovem personagem questiona as decisões femininas para contornar o tempo. Quer entender porque fazem procedimentos invasivos e dolorosos ou dietas ilimitadas. E porque sofrem com o passar dos anos, em vez de verem beleza nas marcas que o tempo traz.
Como o título revela, o foco está nas conhecidas pressões sobre alguns padrões estéticos e no consequente medo do envelhecimento. Em primeira pessoa, Sofia vai conversando com o leitor, fala das próprias inquietações e das que testemunha em outras duas mulheres importantes: a mãe Beatriz, vivendo as dores da separação; e a irmã Ana, em plena descoberta do amor, aos 15 anos. Mas a grande conexão é mesmo com a Vó Anita. Sim, uma menina que admira as rugas da avó a ponto de desenhá-las, se contrapõe ao modelo que tantas de nós aprendemos a perseguir. “Vocês podem até achar exagero meu, mas minha avó brilha naturalmente. Não é por acaso que de todos os desenhos que faço dela saem luzes. Os olhos dela, com suas ruguinhas que parecem raios, só reforçam sua expressão”, diz Sofia, num dos registros no diário virtual.
Do ponto de vista da personagem – que tem, certamente, muito das convicções da escritora- as rugas que chegam com a idade deveriam ter aceitação e acolhimento. Bem mais do que a aparência, Sofia admira a sabedoria da avó que tem sempre algo significativo para compartilhar com a neta. “Com o passar dos anos, nosso corpo vai mudando, mas, por outro lado, nós ganhamos sabedoria, experiência e tranquilidade.” diz Vó Anita, acreditando que as novas gerações estão evoluindo, com mulheres menos escravas dos padrões. Claro que conseguimos prevenir rugas com os avanços da cosmética e o necessário filtro solar. Mas o recado do livro é certeiro, de nada adianta um rosto liso e jovem se, internamente, nos sentimos ultrapassadas e não nos realizamos. A felicidade, ah, a felicidade… essa a gente encontra nas rugas provocadas pelos sorrisos. No fundo, Fernanda Moro fala de todas nós e de nossas inúmeras superações, no caminho da maturidade. Azar de quem despreza tudo aquilo que só o passar dos anos pode nos dar.