Em 20 anos o que muda?

Realizações profissionais, demissão, casamento, divórcio, amores não correspondidos, e falo de todo tipo de amor, amores recíprocos, saudades, mais bagagem cultural e emocional, incertezas sobre envelhecer.  Aos 30, estava casada e não queria filhos. Aos 50, sigo sem os filhos, em um já longo e instigante relacionamento a distância, uma relação madura onde o afeto tem como companhia a cumplicidade e a admiração recíprocas. É um compromisso desafiador nestes tempos de fronteiras fechadas e voos internacionais restritos. Não ter filhos foi uma decisão pessoal e vivas para a liberdade de fazer essa escolha. Amo sobrinhos, enteados e afilhados de um jeito cheio de cuidados e zelo. Amo meus mascotes. Sofri um perturbador luto com a perda do meu primeiro cão, Tommy, um Dachshund preto e barulhento. Ganhei outro que me enche de alegrias, Ruivo, um vira-latas da cor que me inspirou a batizá-lo, manso e manhoso. Não acho que cães são filhos, porém acredito mesmo neste sentimento maternal interespécies e é o que nos torna responsáveis pelos animais que adotamos. Amo minha família, que vive longe mas se comunica muito e não se perde jamais. E celebro a cada dia meu maior privilégio: ter meus pais saudáveis e lúcidos, claro, com as dificuldades que o tempo impõe, mas nada que lhes tire o bem estar. Poder dizer ao telefone, “oi, pai” e “oi, mãe”, definitivamente, não tem preço. E só agradeço por essa longevidade dos dois que, espero, seja genética.

Chego aos 50 com relativa serenidade, relativa porque não pensem os jovens que os dilemas desaparecem por completo, alguns são parceiros de caminhada. Tenho momentos felizes outros nem tanto, a chorona que existe em mim não vai me abandonar  tão cedo, e olhar para a finitude é angustiante muitas vezes. O certo é que esses 20 anos trouxeram coisas impagáveis, a começar por não dar mais importância a determinados incômodos. Certas atitudes alheias, definitivamente, perdem a relevância. E isso é uma libertação. Como o título do best seller de Mark Manson, que ainda lerei, é “a sutil arte de ligar o foda-se”.

Estes 20 anos reforçaram amizades sem as quais é impossível viver. E aqui é preciso falar das amigas, aquelas para quem um suspiro revela tudo e que, com uma palavra e um abraço, acolhem e resolvem qualquer tristeza. Minhas amigas incríveis são capazes de fazer certos dramas parecerem comédias. E são elas que me tornaram tão mais próxima de todas as mulheres, me ensinaram a ter empatia e consideração pelas complexidades femininas, a ser solidária em vez de acreditar que estamos em permanente competição. Há pessoas nocivas independentemente de gênero, e dessas tentamos manter distância. Mas lançar esse olhar amoroso para as iguais é necessário e torna a vida mais leve.

A jornada é pessoal, muita coisa pode mudar em 20 anos enquanto há concepções sobre a vida que se consolidam. E são alguns desses olhares que revisito neste espaço do meu site. Compartilho aqui uma seleção de crônicas publicadas no Jornal OI entre 2002 e 2005. Optei pelos temas que dizem respeito ao feminino, à vida e suas circunstâncias, à superação e resiliência e outras virtudes que considero importantes para viver bem. Neste reencontro com o que escrevi no passado, posso encontrar alguma discordância e, neste caso, não terei problema em registrar. Porque coragem é algo que se potencializa com os anos, também para mudar de ideia.  Republicar meus escritos num formato virtual também é um ato de coragem. Que ela, sim, se multiplique para todas e todos nós com o passar do tempo. Coragem, meninas e meninos! É o que a vida pede.