Há tempos estou me preparando para tratar de um tema valioso, que merece palavras sob medida. É um desafio abordá-lo com total justiça mas, cá estou, a escrever sobre os amigos. Tenho o maior orgulho de me inspirar neles, que complementam minha existência e fazem mil adjetivos se tornarem poucos para definí-los. São pessoas providenciais na nossa vida, tanto que estão por perto sempre que nossas humanas fragilidades exigem.
Nos dopam de carinhos e afagos, nos colocam no patamar dos seres importantes, alertam para os nossos excessos e exageros, recuperam nosso bom humor naquelas horas danadas da crise. Fazem a farra, porém, fortalecem valores essenciais. Perdoam nossos deslizes e nos ajudam a entender que a vida pode ser mais leve e informal. Com os amigos, temos o direito de dizer bobagens. Eles compensam as nossas deficiências, relevam nossos defeitos. Salvam aqueles dias inacreditáveis, quando quase tudo dá errado. Entendem traumas de infância que se arrastam pelo tempo. E percebem quando a nossa maior necessidade é um colo.
Os amigos são uma paixão, mas nada a ver com as possessivas emoções de alguns apaixonados. Amizade é menos egoísta, mais generosa, compreensiva e tolerante. Exercitamos o diálogo e impasses são resolvidos com facilidade porque, com eles, o bom é estar bem. Com elas, as amigas, além de tudo ainda temos a cumplicidade das nossas circunstâncias femininas. Coisa mais doce uma ligação por pura saudade ou as palavras exatas quando estamos confusas, incomodadas, ensimesmadas. É um conforto para os nossos dramas que podem ser pequenos, mas, e elas entendem, são os mais importantes naquele momento.
Um grande amigo pode se achar na família, no trabalho ou nas casualidades da vida. Em qualquer circunstância, vai ser uma relação que aconchega, faz vibrar, emociona, compartilha. Amizade tem que ter respeito, mas, é incondicional nos quesitos social e econômico. Uma relação que deve ser guardada no mágico baú das preciosidades, onde a riqueza se potencializa com o tempo. Se no inventário da vida os amigos de fé não forem muitos, não importa, coisas valiosas são raras mesmo. E coisas raras deve ser tratadas com toda delicadeza, mesmo que sejam tão fortes a ponto de serem nosso suporte.
fevereiro de 2002